Todos conhecem o Sermão do Monte, ainda que o mesmo seja tão pouco
obedecido. A igreja deveria ser o ambiente dos “filhos da obediência”
(1Pe 1.14), mas não é isso que acontece. Infelizmente a igreja tem nome
de que vive mas está morta (Ap 3.1); ela tem se tornado uma versão
maquiada da sociedade sem Deus.
No Antigo Testamento, a vontade de Deus era que seu povo fosse santo,
separado, distinto. Não devia viver como os egípcios de onde saiu, nem
como os cananeus para o meio dos quais foram. Pelo contrário, deviam
andar conforme os princípios estabelecidos por Deus para eles (Lv
18.1-4). Por sua singularidade, o povo do Senhor “é povo que habita só”
sem reconhecimento entre as nações (Nm 23.9). Por isso também não deviam
aprender o caminho dos gentios (Jr 10.1-2).
Lembrar um pouco do povo de Israel nos prepara para entrarmos no
ambiente do Sermão do Monte. Jesus começou seu ministério chamando o
povo ao arrependimento (Mt 4.17). Depois disso, “percorria Jesus toda a
Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e
curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo” (Mt 4.23).
Esse é o contexto do Sermão do Monte, mudança de mente e conduta.
A partir daí fica claro que Jesus quer que seus discípulos sejam
diferentes. Isso é mostrado de modo evidente na expressão: “Não vos
assemelheis, pois, a eles” (Mt 6.8). O caráter dos seguidores de Jesus é
mostrado nas bem-aventuranças. Os discípulos devem brilhar e exceder em
muito aos escribas e fariseus em justiça e piedade. Jesus mostra o
tempo todo o contraste entre os piedosos e os pagãos.
Jesus contrasta os seus discípulos não apenas com os alienados da fé,
mas também com os religiosos. A fé cristã não é formal, liberal, nem
nominal; ela é livre, verdadeira e prática. O Sermão do Monte sintetiza a
contracultura cristã contida no Novo Testamento. O padrão aqui difere
do modo secular quanto a oração, casamento, dinheiro, desejos,
relacionamentos e tudo o mais.
Depois de percorrer toda a Galiléia com o seu ministério, a fama de
Jesus correu longe; por isso, lhe trouxeram todos os tipos de doentes,
enfermos, e endemoninhados. E ele os curou. Por tudo isso, numerosas
multidões o seguiam, vindas da Galiléia, Decápolis, Jerusalém, Judéia e
dalém do Jordão (Mt 4.23-25).
Jesus subiu ao monte para orar, ensinar, mas, provavelmente também para
sair um pouco da pressão das multidões. A Bíblia diz: “Vendo Jesus as
multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus
discípulos; e ele passou a ensiná-los, dizendo:” (Mt 5.1-2).
O Sermão do Monte aparece em Mateus 5-7 e de forma sucinta em Lucas 6.
Muitos comentaristas acham que Jesus não ensinou o Sermão do Monte como
aparece no Evangelho. Pelo contrário, ele é uma coletânea de vários
ensinos harmonizados. Mas isso não parece ter sido a opinião de Mateus e
Lucas. O contexto histórico e geográfico, como a época em que foi
proferido e o local em que aconteceu, faz-nos acreditar que o Sermão do
Monte foi ensinado como o conhecemos. Parece ter acontecido como que num
período de retiro, como fazemos hoje em dia. A expressão “Sermão do
Monte” foi usada pela primeira vez por Agostinho. É provável que o
sermão seja uma versão condensada do ensino de Jesus, pois, como o
temos, levaria apenas dez minutos para transmiti-lo ao povo.
O Sermão é coerente e relevante para os nossos dias. Mostra como Jesus é
e o que espera de seus discípulos. As bem-aventuranças mostram o
caráter do cristão e as bênçãos decorrentes delas; a influência cristã é
mencionada como sal e luz; a relação do cristão com as leis de Deus são
aplicadas de forma extraordinária; a devoção cristã é sincera e real;
os bens materiais não devem ser nossa prioridade, e sim, a glória de
Deus; nossos relacionamentos se qualificam e se definem; a vida cristã
só existe para quem é de fato cristão, e não para quem apenas confessa a
fé com os lábios.
Finalmente, devemos entender que o Sermão do Monte é praticável. Dizer
que este ensino é inatingível, é ignorar o propósito de Cristo. Mas,
dizer que qualquer pessoa pode praticá-lo é ignorar a realidade do
pecado. É claro que o Sermão do Monte é atingível, mas apenas por
aqueles nascidos de novo pelo poder do Espírito Santo. Pessoas não
regeneradas estão certamente diante de um padrão impossível de atingir.
Foi por isso que Jesus disse para um homem de alto padrão moral: “Em
verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode
ver o reino de Deus. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer
de novo” (Jo 3.3, 7). O Sermão do Monte é praticável, mas apenas para os
discípulos de Jesus.
Antonio Francisco.
Antonio Francisco.
fonte: http://www.comunidadedocaminho.com.br/2011/02/o-sermao-do-monte-introducao.html
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